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Gang do Eletro faz show em festival em São Paulo

quinta-feira, 10 de maio de 2012


Uma festa de aparelhagem na periferia. Uma balada em uma cobertura de luxo. Servindo de ponte de ligação entre esses dois mundos aparentemente opostos, o som da Gang do Eletro. Ao combinar duas situações tão distintas, o clipe de “Galera da Laje”, em fase de pré-produção pela Rede Cultura de Comunicação (Funtelpa), define de um jeito certeiro a fase atual do grupo.

As batidas eletrônicas aceleradas e letras retratando o universo das festas de subúrbio de Belém concederam à banda status cult entre os modernosos. Tanto que Waldo Squash, Marcos Maderito, Willian Love e Keila Gentil chegam cheios de moral à edição brasileira do Sónar, que começa amanhã em São Paulo. Entre as principais atrações, o grupo alemão Kraftwerk, além de outros grandes nomes da música eletrônica, como o rapper americano Cee Lo Green e o duo francês de electro-rock Justice. Enric Palau, diretor artístico e um dos criadores do festival, demonstrou curiosidade pelo show da Gang em entrevista à revista Época. “Acho que o tecnobrega pode causar o mesmo impacto que o funk carioca teve no exterior, há alguns anos”, disse ele.

“As pessoas de fora têm mesmo muita curiosidade. São atraídas pela coisa da aparelhagem. Vão pelo diferente”, reconhece Waldo Squash.

A banda vem se aproveitando do bom momento da música paraense no cenário nacional. O caso mais evidente desse namoro na atualidade é a projeção de Gaby Amarantos com “Ex My Love”, tema de abertura “Cheias de Charme”, novela das 19h da TV Globo. A conterrânea é uma das principais responsáveis pela divulgação do nome da Gang do Eletro. A música “Galera da Laje”, hit chiclete de Maderito em louvor às festas de aparelhagem foi assimilado ao repertório da diva do tecnobrega, compondo inclusive o novo disco de Gaby, “Treme”, com previsão de lançamento para o segundo semestre.

“‘Galera da Laje’ já fazia parte do repertório dela [da Gaby] faz um tempo. A inclusão no disco foi natural. Só ganhamos com ela cantando nossa música. Ela tocou nossa música no ‘Altas Horas’, até. É um orgulho. Ouvi dizer que a ‘Galera da Laje’ tá sendo muito requisitada no Projac. Acho que em breve a gente vai dar um pulo por lá”, afirma Maderito, falando do jeito acelerado que lhe é peculiar, motivo de seu apelido de “Garoto Alucinado”.

Carisma

É inegável o mérito da Gang. Cada apresentação é seguida por uma enxurrada de críticas positivas. A mídia especializada costuma se render com comentários empolgados. A banda ganhou destaque na revista inglesa especializada em música Wire, que indicou duas músicas da dupla. No jornal O Globo foram parar como um dos dez mais importantes álbuns de 2010 – mesmo sem ter lançado um álbum.

O conceito quase alienígena de “música eletrônica da Amazônia” para as plateias de fora os fizeram se destacar entre a - já considera exótica - música paraense. No palco, o clima é de aparelhagem: com letras recheadas de gírias locais como “passar o sal” e “só no charminho” e os movimentos robóticos da “tremidinha” da vocalista Keila.

 
O recente boom do tecnobrega vem embalado pelo interesse internacional pelo ritmo, inserido no movimento global ghetto tech. Espécie de resposta do século 21 à world music, o ghetto-tech pode ser conceituado como uma junção de várias cenas “periféricas”, que diferem em ritmo e influências, mas têm em comum o fato de serem feitas no computador, calcadas em ritmo e batida eletrônicos.

Investir em território gringo já está na lista de prioridades da banda, que vê o Sonár como o carimbo no passaporte para esse projeto. “Já temos uma proposta para o disco e uma turnê fora do país está em cogitação. Acho que o Sonár pode ser uma ótima oportunidade para a gente azeitar esses projetos. Mas a gente tá indo para ver o festival em si. É sempre um aprendizado. No Rec Beat, eu assisti ao show do Sistema Solar, da Colômbia. E ‘fiquei doente’, porque sou apaixonado por cúmbia eletrônica. Aquilo me abriu a mente para fazer algo parecido dentro do eletromelody”, conta Squash.

Enquanto a carreira internacional não decola, eles vêm ganhando terreno no resto do país. No festival Rec Beat, em que se apresentaram no ano passado, em Pernambuco, a aceitação foi tamanha que o público não deu sossego nem na passagem de som. “O pessoal começou a chegar, a pedir mais uma. Como é que consegue parar? O Rec Beat é uma enorme vitrine porque Recife durante o carnaval é um ponto estratégico. Vai muita gente, de tudo quanto é lugar. O festival é gratuito, também. Nunca tocamos pra tanta gente”, revela a jovem cantora de 21 anos.

Sucesso também se deve à força das ‘equipes’

Keila Gentil e William Love eram vocalistas da AR-15, outro fenômeno das festas de aparelhagem, antes de serem convidados para participar da Gang em 2010. “O Waldo me convidou para uma parceria, já que ele estava pensando em expandir a banda, contratar novos dançarinos, um vocal feminino”, relembra Love. A Gang surgiu em 2008, em meio à efervescente cena tecnomelody paraense.

Marcos Maderito e Waldo Squash seguiram carreiras paralelas na cena tecnobrega, até se encontrar para formar a Gang do Eletro. Maderito foi roadie e fez cover dos Mamonas Assassinas, enquanto Waldo Squash, que é mecânico industrial, trabalhou como produtor de áudio em rádios do interior.

Maderito aprendeu seu ofício gravando por encomenda para as equipes de aparelhagem, espécie de fã-clube formado pelos frequentadores das festas de tecnobrega. Foi graças à atividade que conheceu seu principal parceiro musical, o DJ Waldo Squash. “Eu tava estourado com a ‘Galera da Laje’ e o Waldo tava com a ‘Super Pop é Curtição’. Aí, no Super Pop, os DJs estavam misturando nossas músicas. Começam com o refrão ‘Laje, laje. É a galera da laje. Super Pop é curtição’. E os próprios fãs incentivavam esse encontro. Perguntavam quando a gente ia fazer alguma coisa juntos. Um amigo nosso fez a ponte. Ele estava trabalhando com o Waldo e me passou o telefone dele. Marcamos no mesmo dia pra gente se encontrar lá em São Braz”, relembra Maderito.

Naquele mesmo dia surgiu o primeiro trabalho da dupla para a equipe Super Chopp, de Tomé-Açú. Compor sob encomenda para equipes de aparelhagem continua sendo uma das principais atividades da Gang. Mas do que uma fonte de renda, é o jeito que a banda encontra de se manter próximo de seus fãs. “E tem aquela tradição do cara [o DJ] de tocar e mandar abraço. Como não dá pra mandar abraço pra todo mundo, formam uma equipe. Compor pra equipe te faz ficar considerado entre a galera. Além de fonte de inspiração pra banda, várias músicas de equipe entraram no repertório da banda”, define Waldo, provando que seja na laje ou na cobertura, Gang é só sucesso.



Fonte: Diário do Pará

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